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Não é Roleta: Como Vencer o Jogo das Crises Econômicas

Rodrigo Mallmann

Uma crônica de um advogado mochileiro

Na minha bio, eu me apresento como advogado e mochileiro, escritor nas horas vagas. Considerando que este novo formato da nossa newsletter do escritório, que permite uma linha mais crônica - editorial, me sinto honrado em inaugurar este espaço. Isto porque vem faltando horas vagas para ser escritor, e escrever como parte do trabalho é o melhor dos mundos.

Como mochileiro, as notícias internacionais sempre captam a minha atenção, em especial aquelas que podem gerar variação na economia, dificultando ou facilitando viagens. O tarifaço de Trump não poderia passar desapercebido. E as variações da moeda, o mercado angustiado sem saber ao certo como proceder, setores na iminência de uma crise, e uma única certeza. Todo o processo vem sendo mal conduzido. Seja pela imposição norte-americana a uma política de grandeza, seja pela reticência quase inerte do governo brasileiro em apresentar soluções.

Neste jogo da democracia, onde muitas vezes os interesses são escusos, montar um negócio que dependa quase que exclusivamente de algo que às vezes foge ao controle, é apostar todas as fichas em uma única casa na roleta. Se há fichas suficientes para seguir jogando, ótimo. Se não há, aí a coisa complica. Nessa história de atuação em mercados internacionais, é sempre importante pensar um pouco a frente. Como falamos em jogos, pensemos em um tabuleiro, onde a estratégia deva ser sempre pensar duas casas à frente.

Obviamente perder clientes é ruim. Mercados exportadores aos Estados Unidos sofrerão sobretaxas, e em uma política de preços competitiva, talvez esta sobretaxa seja decisiva aos norte-americanos entre comprar do Brasil ou produzir interno. Este é o objetivo (ao menos, o divulgado) desta política do Trump. Mas entender que este momento pode ser uma possibilidade de abrir novos mercados para evitar essa dependência, ajustar estratégias, refazer uma matriz SWOT para a sua empresa, e posicionar-se de maneira adequada para contornar a crise. E quando ela passar, a dependência já não será mais a mesma, e se terá maior poder de negociação por que a relação de poder entre fornecedor e consumidor terá sido alterada. Avance uma casa.

A barreira imposta pela sobretaxa tende a ter um auxílio estatal para evitar demissões em massa e agravamento de problemas nos setores afetados. Estes auxílios devem vir em forma de incentivos fiscais, financiamentos facilitados, e um maior fomento para o consumo interno. A política de preços e, principalmente, de fluxo de caixa destas empresas deve ser objeto de muita atenção. Porque os incentivos tendem a possuir prazos e condições específicas, e as companhias precisam olhar para isso como uma situação provisória, e não uma nova condição imposta para sempre. Vide o Pronampe, em que diversas empresas se afundaram em dívidas porque utilizaram o programa de forma indevida para promover investimentos que não necessariamente representariam um retorno financeiro ali adiante. Pensar nos benefícios e incentivos pelas suas naturezas: são condições provisórias. Utilize-se deles, mas não dependa deles para sua operação ficar em pé. Avance mais uma casa.

Empreender é uma aventura. Qualquer um que tentou fazer isso no Brasil sabe o quão difícil é construir uma empresa. E quando decisões alheias ao nosso controle geram impactos tão grandes, a administração vira um jogo de apostas. Mas as apostas devem ser realizadas com bastante estudo e preparação. Não é roleta, nem tabuleiro, é blackjack contando cartas. Parece fácil, olhando de fora, para se dizer quais medidas devem ser realizadas. Mas esse é um texto meramente opinativo de um advogado que atua no direito societário. Se eu soubesse mesmo como proceder, eu estava viajando de mochila por Las Vegas.


*O conteúdo do texto reflete tão somente a opinião e posição do autor, não representando a posição institucional do escritório Machado & Mallmann Advogados, nem de seus colaboradores e associados.


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